top of page
  • YouTube
  • Instagram

EXPOSIÇÃO
ONLINE

A primeira edição do parempar traz quatro artistas em diferentes pontos da carreira: Sofia Porto Bauchwitz, Luara Rocha, Malu Araújo e Chrystine Silva. Cada uma delas se relaciona com a imagem à sua maneira, fazendo uso das diferentes ferramentas disponíveis.

 

Durante muito tempo as representações de paisagens foram tidas como a própria natureza. No entanto, os estudos sobre o conceito de paisagem, nos levam ao entendimento de que aquilo que pintamos ou fotografamos além de ser um construto cultural, interfere na maneira como vemos a natureza. A natureza não é apenas essa que nossos olhos vêem fora de nosso corpo, mas ele mesmo, o corpo, pode ser uma paisagem, um mapa e um cartógrafo que produz mundos mentais, fabulosos, monstruosos, feitos de sons e texturas. A paisagem se repete nessa primeira edição do ParemPar nos trabalhos de todas as artistas convidadas. Às vezes parece ser a mesma, se relaciona com o mar, as dunas e memórias de corpo, mas as marcas que o território deixa em cada artista são singulares.

 

Luara com suas pinturas de paisagens costeiras nebulosas e taciturnas parece mesmo estar pintando o fim do mundo. Há uma melancolia despreocupada que só uma juventude que já perdeu toda esperança poderia botar sobre a tela. Talvez, como nas plantas, haja mesmo uma indiferença em relação ao futuro humano nesta terra. Vive-se, o que é bastante. Amanhece, o que não é pouco.
 

Chrystine Silva vai além da tela, desenhando as linhas na própria superfície do corpo. Exibe trabalhos sobre nossa relação de simbiose com a natureza, dialogando com as plantas, realizando um ritual de des-nascimento… como se fosse possível retornar a alguma origem, voltar ao passado e realizar uma integração plena de inteireza com a paisagem que habitamos.
 

Sofia Bauchwitz também apresenta paisagens nebulosas, retratos de dias brancos que dialogam com as solitárias Nastenkas e suas pontes de espera, e com as mulheres de Sodoma que correm sem olhar para trás para não virarem estátuas de sal. Há um interesse nas dores que enfermam o corpo (próprio e social) que precisa ser sanada, e para a qual a artista inventa rituais com terra, barro, atrás de curas possíveis, mesmo que para-científicas. 


Malu Araújo, em suas obras, deixa esse corpo-mapa falar nas linhas, manchas e gestos. Ela desenvolve uma pesquisa a partir de sua ancestralidade e nos apresenta memórias de afetos, rotas desviantes de um passado indesejado que nos apresenta com lacunas e abismos. Suas imagens são abstratas, são pensamentos que partem da vivências do corpo de uma mulher afrodiaspórica e busca um “refazimento” das histórias do povo preto. 

 

Essas quatro artistas conversam entre si de muitas maneiras distintas, são pares abertos, não fixos, que se deixam embaralhar pelo vento.

Agora, que tal se permitir conhecer essas mesmas paisagens sob diferentes perspectivas e olhares ? 

 


 

TEXTO Sanzia Barbosa e Sofia Bauchwitz

EQUIPE

Comissão curatorial | Sanzia Barbosa e Sofia Bauchwitz

Entrevistas | André Bezerra

Design | Vinicius Dantas

Comunicação | Renata Marques 

SOFIA PORTO
BAUCHWITZ

Sofia
banner34-09.png

BÓLIDE - Onde é possível ver o seu trabalho na cidade/estado, não no sentido de onde ele está exposto, mas das experiências da cidade/estado que presentificam o que está na carga viva do que você coloca em evidência no seu trabalho?

SOFIA - na paisagem, nas esculturas destroçadas, no cheiro doce da árvore de nome que eu não conheço, no branco do sal, nas baleias jubartes que acasalam em setembro, no calor de fevereiro que é sempre mais quente que no ano anterior, no vento que sopra sem parar.

BÓLIDE - Qual o sabor da cena potiguar? Como ele faz sentir à boca e o estômago?

SOFIA - tem sabor de um excesso - de algo que falta ou algo que sobra. Cuspir antes que chegue no estômago, então, antes que faça ninho.

+

LUARA ROCHA

LUARA
banner34-09.png

BÓLIDE - O que você deixaria em um bilhete para aqueles que começam hoje a trabalhar na cena local e o que diria para aqueles que estão a mais de trinta anos na cena?

 

LUARA - Para os que começam hoje, escreveria: por muito tempo, só você vai acreditar no seu trabalho, e só na construção dele e na insistência nele encontrará uma importância que vai para além de você. 

Para quem está há mais de trinta anos na cena - dependendo de quem seja, porque vemos disparidades gigantescas no mundo da arte, como aqueles que trocam desenhos por quantias ínfimas para fumar sua pedra e aqueles que se consolidaram como professores universitários ou conquistaram de outras maneiras a estabilidade psicológica e financeira - diria que se façam presentes na formação dos novos artistas, da maneira que couber, seja através de oficinas com vagas gratuitas, seja no dia-a-dia, mas orientar aqueles que estão começando e se manter próximo do novo, trocando conhecimento e mantendo a própria juventude.

 

BÓLIDE - Aonde você se sente sozinho na cena potiguar atual? O que lhe isola, ou o leva a isolar-se?  

 

LUARA - O que mais me isola na cena local são as distâncias, os transportes. Moro e trabalho em Búzios, onde não tenho diversos gastos que teria caso me baseasse na capital. Para além disso, o isolamento que ocorre com os artistas natalenses em geral está na falta de encontros, principalmente durante a pandemia. As trocas de experiências são extremamente importantes no desenvolvimento das poéticas e percebo um movimento muito voltado ao mercado digital, tendências internacionais etc. Faltam trocas presenciais que sirvam de estrutura para nós, artistas. Nesse sentido, no pós-pandêmico, se esbarrar por aí tem sido bastante proveitoso. 

+

MALÚ

MALÚ ARAÚJO

banner34-09.png

BÓLIDE - O que você deixaria em um bilhete para aqueles que começam hoje a trabalhar na cena local e o que diria para aqueles que estão a mais de trinta anos na cena?

 

MALÚ - Para ambos os casos, diria: consubstanciemos arte e vida para uma regalia de saborear nossa essência.

 

BÓLIDE - Aonde você se sente sozinho na cena potiguar atual? O que lhe isola, ou o leva a isolar-se?  

 

MALÚ - me sinto só na negritude e não poderia dizer outra coisa além da branquitude ser o que me leva ao isolamento por não-pertencimento.

+

CHRYSTINE SILVA

CHRYS
banner34-09.png

BÓLIDE - O que você deixaria em um bilhete para aqueles que começam hoje a trabalhar na cena local e o que diria para aqueles que estão a mais de trinta anos na cena?

 

CHRYS - Aos que iniciam sua trajetória: Ensine, seja como e aonde for, as mudanças culturais são lentas e cabe a nós também compartilhar o saber e o sentir da Arte. Encontre seu espaço, se não houver um, crie, mas não silencie seu fazer. Aos que seguem firmes: Obrigada por nos abrir novos espaços, a partir de suas pegadas começamos a nossa caminhada, sua luta e amor pela Arte nos ajuda a continuar.

 

BÓLIDE - Aonde você se sente sozinho na cena potiguar atual? O que lhe isola, ou o leva a isolar-se?  

 

CHRYS - Me sinto sozinha em eventos artísticos quando estou envolta em vozes apenas de profissionais da área que acabam tratando de problemáticas aprofundadas sobre a própria cena atual, o que acaba excluindo questões como a necessidade de alcançar o público em geral.

+

SOBRE AS ARTISTAS

 

Sofia Bauchwitz, Rio de Janeiro, 1988 mora em Natal Artista e pesquisadora brasileira, nordestina, com fragmentos de identidade em diversos lugares. É licenciada em Artes Visuais, e realiza o Máster en Investigación en Artes y Creación da Universidad Complutense de Madrid (UCM em 2013. É Doutora em Belas Artes pela mesma instituição com a tese El Artista Errante y El Discurso como Cartografia (CAPES, 2017). Entre 2014 e 2016 realiza o projeto Fronteiras e Estados de Sítio, projeto itinerante de cartografia de discursos artísticos, que teve três edições (Pinacoteca do Estado do RN, 2014; Casa do Brasil em Madrid/Embaixada Brasileira, 2016; Centro de Arte Complutense, 2016). Colabora com o espaço cultural Bólide1050, de Sanzia Pinheiro, em Natal/RN, desde 2017. E em 2020 inicia o grupo Criacionistas com as artistas Mariana do Vale, Lara Ovídio e Rafaela Jemmene. Em sua obra percebe-se a influência literária e a busca pelo ensaio polifônico como desdobramento de narrativas pessoais. Participou de exposições coletivas e projetos como o Festival Arte Praia (Casa da Ribeira/FUNARTE, Brasil, 2011); a exposição Janos: The inmaterial Worker (CarteC/Museo del Traje, Madrid, 2013), de curadoria de Malcolm Bull (Ruskin School of Oxford) e Ricardo Horcajada (UCM), com a instalação "Ruinas"; Mostra Nordeste, de curadoria de José Rufino, com a série "souvenirs para amantes"; MAK Schindler Scholarship Program (MAK Center, Los Angeles, 2015) com o projeto "Caminhos Coexistentes"; Apuntes para una psiquiatría destructiva (Sala de Arte Joven Madrid, 2017), curada por Alfredo Aracil, com o projeto "Her House on the Water"; Festival de Cine Flõ (Porto Alegre, Brasil, 2017); Breathing Space (Museum Arhemn, Holanda, 2016), curado por Inez Piso e Natalie Keppler, com "Organ compositions from the Interstice"; Intransit 2016 (Centro de Arte Contemporáneo Complutense, 2016), com "Fronteras y Estados de Sitio Vol. III"; Jornal de Borda 03 (2016), de Fernanda Grigolin, com o Coletivo Nítida. Foi exposta na Fundação Eugênio de Almeida (Évora, Portugal), Zeicheninstitut (Kassel, Alemania), Museo Murillo la Greca (Recife, Brasil), Pinacoteca do Estado (Natal, Brasil), Centro Cultural Banco do Nordeste (Fortaleza, Brasil), Museu Assis Chateaubriand da Universidade Estadual da Paraíba (João Pessoa, Brasil), entre otros.

Luara Rocha (555), 22 anos, Natal/RN, estudante do curso de licenciatura em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Atualmente, o enfoque da minha produção se encontra na pintura acrílica sobre tela, onde busco colocar em evidência soluções visuais através de cores, formas e texturas, explorando a organicidade dinâmica de paisagens transfiguradas, em especial as dunas e a paisagem litorânea do RN, além de formas abstratas, monstros e personagens antropomórficos.

Malú é artista visual natural de Mossoró/RN e criada na praia de São Cristóvão, estando há 5 anos residindo na cidade em que nasceu. Atualmente seu trabalho é voltado primordialmente para pinturas em tela, onde sempre buscou despertar manifestações mentais onde houvessse implicações na experiência humana consciente, em 2021 deu início a sua pesquisa afrocentrada chamada 'Corpo Diaspórico' onde trata sentimentos difusos de convivência com a branquitude, questões de pertencimento, dores e prazeres, abordando a diáspora em suas obras. 

Chrystine Silva é atriz, performer, bailarina, professora e estudante de psicologia. Quando se apresenta como atriz, performer e bailarina não é necessariamente porque tem produções especificamente em Teatro, outras produções que são do domínio da Dança e outras ainda do campo da Performance. Mas sim porque quando entra cena, seja ela qual for, traz tudo isso consigo. É de sua natureza ser mestiça, é no pensamento como é na pele, não tem nenhum tipo de pudor em misturar referências, áreas do conhecimento, linguagens, pessoas. Se guia pelo que faz sentido em um determinado momento ou inquietação durante sua vida. Constrói sua trajetória mais próxima da Arte desde 2011 passando por diversos eventos e exposições pelo Brasil, aqui apresenta três de seus trabalhos de fotografia e registro de performance. A Série (des)Brotamentos, 2012, criada durante a Residência do Coletivo ES3 no Instituto Hilda Hilst, traz a junção entre homem e natureza, retomando nossa essência animalesca, tem como performers e fotógrafos André Bezerra e Chrystine Silva. A série Branco no Preto, também de 2012, consiste no registro de uma ação que investiga a relação da performer com suas origens étnicas e as influências desse aspecto nas suas relações diárias, as fotografias são de André Bezerra. Por fim, a série (I)Movências foi criada através da pesquisa de movimentos realizada nas dunas de Genipabu em 2012 com fotografias de André Bezerra.

Sobre as artistas
bottom of page